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Corria o ano de 1999, dois anos de existência da Associação de Defesa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento de Antonina e a ONG, com o apoio do Clube Náutico de Antonina, em parceria com o CEFET- Campus de Curitiba, por meio de recursos do Fundo de Amparo ao Trabalhador, qualificava a classe trabalhadora de Antonina para desenvolver o EcoProduto: produtos artesanais com materiais alternativos. Enquanto era qualificada a criatividade dos participantes se multiplicava. Criavam objetos, exploravam materiais e queriam comercializar os produtos, mas onde? Trabalhávamos num local isolado, na churrasqueira da sede social do Clube Náutico de Antonina, único espaço conquistado.

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ADEMADAN

NOSSA SEDE

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Oficina Papel Reciclável

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Oficina de Pedra Sabão

Precisávamos de espaço para comercializar os produtos e multiplicar a qualificação dos trabalhadores. Pensamos que uma das tantas ruínas abandonadas em Antonina poderia nos ser cedida para realizarmos as Feiras Livres do Eco-produto que estava sendo criado na churrasqueira do Clube Náutico. Escolhemos a Antiga Casa de Rendas de propriedade do Estado, um local que nem de ruína poderia ser chamada tal era o estado de abandono em que se encontrava, como demonstra as imagens abaixo, cujas fotografias foram tiradas em 1999:

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Bem no coração da pitoresca cidade de Antonina, na Praça Coronel Macedo, estava lá em forma de escombros daquela que um dia foi símbolo de desenvolvimento, emprego e renda para a classe trabalhadora antoninense: a Casa de Rendas ou Exatoria, como era chamada a Coletoria do Estado. Feia e suja era motivo de constantes debates no prédio ao lado, sede da Câmara de Vereadores, pois ali se drogavam, se prostituíam e aliviavam as necessidades fisiológicas os transeuntes da madrugada.

Teria já há muito suas paredes, testemunho silencioso do explorado trabalho escravo, ido ao chão sem nenhum cavalheiro para levantá-la, caso uma extinta ONG, chamada PACUNAAN – Patrimônio Cultural e Natural de Antonina – criada por mulheres guerreiras do município, não tivesse construído uma cinta de concreto em seu torno. Esta foi a última ação preservacionista daquela ONG, sem saber que décadas mais tarde a ADEMADAN se tornaria legítima herdeira de valiosa herança.

Fato importante de registrar é que em 1987 três mulheres da ONG: Sônia M. Mendes, Jene Feres Stanicia e Isa Maria Vieira Zim, organizaram um plebiscito para a população local decidir se queria que uma empresa química se instalasse no município, uma vez que seus resíduos poluiriam a baía (na época não existia EIA-RIMA). A população compareceu e votou contra a instalação da empresa. Este fato foi publicado no Livro do Ano de 1988, daEncyclopedia Britânica do Brasil, no setor de Ecologia: “Em Antonina, Pr, realizou-se um plebiscito sobre a intenção da Brasti Indústria Química Ltda, de se estabelecer no município, e a população se opôs. Embora sem valor legal, a decisão plebiscitária deu força à luta local contra a poluição” (Encyclopedia Britânica do Brasil, 1988, p. 249).

Percorremos os caminhos legais, conquistamos uma autorização da então Secretária de Cultura do Estado, Lúcia Camargo, para ocupar o espaço. Mas o prédio estava na justiça e não podíamos ocupar. De secretaria em secretaria de Estado, promotores e juízes cansamos da peregrinação, desistimos dos argumentos, organizamos mutirão, limpamos, fechamos e pintamos o prédio a revelia da morosa justiça das leis e tratamos de fazer justiça social; literalmente com as próprias mãos.

A Universidade Tuiuti do Paraná cedeu uma lona que adquiriu do Circo Irmãos Queirolos, o CEFET doou carteiras e portas, materiais que sobraram das reformas e em dezembro de 1999 fizemos a primeira feira do eco-produto na Antiga Casa de Rendas, simplesmente ocupando o lugar e nele imprimindo função social por meio do trabalho voluntário.

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Iª Reforma de Nossa Sede 1999-2000

A ruína foi um símbolo dos tempos em que o trabalho proliferava em Antonina, foi construída pelos escravos no final do Século IXX, adquirida pela família Loyola e vendida ao Governo do Estado no início do século XX, para ser sede da Coletoria ou como era conhecida: Casa de Rendas. Estava, então, Antonina nos albores daqueles tempos áureos do porto, em que algumas décadas à frente viria a ser o quarto exportador do Brasil. Com a decadência do Porto de Antonina, nos anos 70 e 80 do século que passou, a economia do município decaiu e muitas das soberbas construções de arquitetura luso-brasileira transformaram-se em ruínas abandonadas, entre elas a Antiga Casa de Rendas.

Por meio do trabalho voluntário foi possível, aos poucos, recuperar o prédio abandonado. Nele aconteciam, todos os finais de semana, oficinas e comercialização de artesanato. As oficinas eram dadas por artistas, grandes nomes das artes plástica paranaense e a fim de realizá-las, sem qualquer custo para os alunos, inúmeros jantares foram realizados no então Hotel Regency Capela, graças à parceria com o Sr. Ernani que acreditou em nossa causa. Nestes jantares os colegas, professores e alunos da Universidade Tuiuti e do CEFET compareciam sempre. Neles vendíamos os artesanatos e o entretenimento ficava por conta dos amigos artistas, cujo ator principal sempre foi Rellen Sallumberg contador de causos.

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Rellen Sallumberg Contando Causos

A venda dos artesanatos estimulava os artesãos nas qualificações e, principalmente, nas pesquisas de materiais alternativos para atender as exigências dos visitantes. O eco-produto tinha selo que o identificava enquanto tal. O selo também foi patrocinado pelo Clube Náutico na gestão do Comodoro Daniel Lúcio.

Com os móveis e portas doados pelo CEFET e o circo doado pela UTP, sem banheiro, sem luz e nem água no local, improvisamos as oficinas de criatividade e solidariedade durante dois anos.

Foram realizados, ao longo de dois anos de parceria com o CEFET, mais de 20 cursos de qualificação, entre eles o primeiro de eco-turismo no litoral, com uma carga horária de 360h. Este trabalho era coordenado no CEFET pelo professor Cláudio Martins. As imagens abaixo são da oficina de bambu, no tempo em que trabalhávamos embaixo de lona de circo, sem água e sem luz atendendo uma média de 20 alunos por oficina.

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Em 2002, com o apoio do Presidente da Comissão de Ecologia da Assembléia Legislativa do Estado, Deputado Neivo Beraldim e do Deputado Algaci Túlio ,conseguimos aposentar a lona de circo e colocar um telhado no prédio e em 2006 e 2007 realizamos uma nova restauração do prédio recuperando as janelas e definimos o amarelo e azul como as cores da Nossa Sede.

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A par de toda a nossa história para recuperar um patrimônio histórico abandonado pelo poder público ao longo de décadas em Antonina, nestes últimos oito anos imprimindo um caráter de uso social no espaço, até o início deste ano éramos posseiros sempre correndo o risco de sermos expulsos de nossa sede, como realmente fomos no final da Gestão do Sr. Governador Jaime Lerner, cuja Secretaria de Administração de seu Governo solicitou, sem qualquer justificativa, que desocupássemos o imóvel. Foi necessária uma ação política para permanecermos e assim expressamos nosso agradecimento ao então Deputado Estadual Valdir Leite (Paranaguá) pelo apoio que recebemos na época.

Contudo, no final de seu mandato, o Deputado Natálio Stica, em dezembro de 2006, conseguiu aprovar na Assembléia Legislativa do Estado do Paraná, o projeto de Lei que autoriza o Governador do Estado do Paraná a doar o imóvel para a ADEMADAN, como segue:

 

LEI Nº 15374 – 15/01/2007

Publicado no Diário Oficial Nº 7400 de 30/01/2007

Súmula: Autoriza o Poder Executivo a doar à Associação de Defesa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento de Antonina – ADEMADAN, o imóvel que descreve.

A Assembléia Legislativa do Estado do Paraná aprovou e eu promulgo, nos termos do § 7º do Artigo 71 da Constituição Estadual, os seguintes dispositivos do Projeto de Lei nº 224/06:

Art. 1º Autoriza o Poder Executivo a doar à Associação de Defesa do Meio Ambiente e do Desenvolvimento de Antonina – ADEMADAN o imóvel situado à Praça Coronel Macedo, 316 –

Centro – Antonina – PR, registrado no Registro de Imóveis sob o número de ordem 899/506, datado de 25 de outubro de 1916.

Parágrafo único. O imóvel descrito será utilizado pela Associação que atua na área de desenvolvimento e meio ambiente em áreas de preservação ambiental com ênfase na Mata Atlântica.

Art. 2º A presente lei entrará em vigor na data de sua publicação.

Palácio Dezenove de Dezembro, em 15 de janeiro de 2007.

HERMAS BRANDÃO Presidente

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